quinta-feira, fevereiro 08, 2007

O Insólido do dia-a-dia

Eram 3h50 da madrugada. Acordei com o toque do meu celular. Corri para atender antes que mais alguém da casa ouvisse. "Esse meus amigos não têm jeito, bebem e depois me ligam só para zuar", pensei. No visor do aparelho, o registro de uma chamada improvável: Taís*, uma garota que conheci há menos de uma semana na saída de uma balada aqui em Brasília.

Após curtirmos Axé Music na Platz e, ludibriadas, termos caído em um Samba Pop no Minas Club (com saldo positivo, ainda bem!), duas amigas e eu decidimos lanchar, isso às 4h00. Foi aí que conhecemos a Taís, sozinha, perambulando enfrente à lanchonete. Ela parecia tão desnorteada, confusa. E estava: saiu de casa à esmo após uma briga com o namorado, que agora não atendia às suas ligações. Pediu para sentar à nossa mesa, e começou a desabafar. Tentamos confortá-la com palavras simpáticas de quem já enfrentou situações parecidas. Terminado o lanche, trocamos números de telefone e prometemos nos falar. E agora, numa madrugada de quarta-feira, por que ela estaria me ligando?

Atendi à chamada, mas não era ela. Do outro lado, uma voz masculina, se dizendo irmão dela, me indagava calmamente sobre o paradeiro de Taís. Mesmo meio dormindo, não me deixei levar pela história contada por ele - que a garota estava desaparecida. "Quando você a viu pela última vez?" - perguntou. "Quando ela sumiu?" - indagei. "Você esteve com ela sexta-feira passada?" - insistiu. Foi aí que provoquei: - Irmão nada, você é o namorado dela, querendo saber ou confirmar aonde ela foi ou o que fez. Mas não sou eu quem vai te contar nada! Ele se descontrolou, gritou, esbravejou e me ofendeu ao telefone, confirmando minha suspeita. Vejam só, ofendeu a mim, uma completa estranha. Quando desequilíbrio! Obviamente desliguei na cara dele, que não voltou a me telefonar.

Permaneço em dúvida sobre o que realmente houve com Taís. O celular dela está desligado desde então. Minhas supeitas são de que ela venha sofrendo algum tipo de violência. Não sei se física, mas certamente psicológica e moral. Aliás, violências essas que muitas de nós, mulheres, permitimos que sejam continuadas quando nos calamos frente ao primeiro insulto, empurrão ou objeto quebrado. Violências contidas na invasão da privacidade de nosso celular, de nossas bolsas, de nossas gavetas. Violências que deixamos, muitas vezes, trancadas na intimidade de uma vida a dois doentia, da qual não se consegue sair.

Meninas, o amor não justifica a perda da individualidade, a anulação pessoal, nem tão pouco o subjulgo a outrem. É um preço alto demais, que ninguém precisa pagar. A felicidade, este bem abstrato a que nos propomos buscar em toda nossa existência, está em amar sim, sempre, mas a nós mesmas em primeiro lugar.


* Por ser uma história verídica, optei por trocar o nome da personagem principal a fim de preservá-la.

:(

2 comentários:

Anônimo disse...

cara, violência contra a mulher, contra crianças e contra idosos são coisas que precisam ser combatidas por cada um com consciência, diálogo e apoio psicológico, pois somos todos pólos dessa violência e suas vítimas, sendo ou submissos a ela ou mesmo o próprio foco, seja ele direto ou indireto.
toda pessoa que já passou da adolescência deveria ter o bom senso ou ao menos senso de ridículo em relações afetivas. ninguém, é dono de ninguém e a beleza de uma pessoa (interna e externa) é melancólicamente decomposta no cotidiano de um cárcere conjugal, assim como as máscaras dos algozes são feitas das almas que eles vampirizam.
espero que esta garota encontre seu caminho e não se deixe levar pela lábia de canalhas mal intencionados...

Anônimo disse...

Nossa, amiga!!!
Que história, hein?!?!

E aí, como vc tah?

Muitas saudades...
Mil beijinhos***